Opinião

SOS Pescas

O maior privilégio para quem exerce cargos políticos, é no meu entender, a possibilidade de perceber junto das pessoas aquilo que de facto as preocupa, lhes retira qualidade de vida, as entristece ou enraivece, e tentar dentro do nosso campo de ação, contribuir para resolver ou minimizar aquilo que as atormenta. Infelizmente, nem sempre temos uma solução, uma resposta imediata, ou um qualquer truque de magia. Não raras vezes, sentimo-nos impotentes, e carregamos connosco esta frustração, mas ainda assim, estou convicta de que a proximidade que nos cumpre reconquistar entre a política e os cidadãos, assenta também na seriedade como tratamos dos assuntos dos outros, especialmente nos momentos em que outra hipótese não nos resta, do que assumir que não temos uma varinha de condão, que por magia resolva os problemas que a todos nos inquietam.

Foi com este espírito que reuni no “Porto” da Horta com alguns pescadores do Faial, ouvindo-os, dando-lhes voz, percebendo a cada vez maior fragilidade do setor, e o quanto se sentem esquecidos, preocupados, discriminados, perseguidos e revoltados. E na verdade, motivos não lhes faltam.

Ora vejamos:

Na ilha do Faial, não existe um verdadeiro Porto de Pescas, mas sim um local (muitas vezes incerto) onde os pescadores descarregam o seu pescado. Esta é a única da ilha da Região, onde a gestão deste espaço é feita pela Portos dos Açores, o que logo à partida tem como consequência a ausência de uniformidade de critérios entre todas as Lotas dos Açores.

Na ilha do Faial, faltam condições de pesagem de pescado, as balanças nem sempre estão calibradas, falta uma equipa de manutenção de equipamentos, falta maior capacidade do entreposto, por forma a dar resposta também à fileira da exportação, falta pessoal na Lotaçor que garanta que o pescado aos fins-de-semana e feriados possam ser armazenados no frio, faltam regras, falta organização e delimitação do espaço adstrito a cada atividade, faltam meios para fiscalizar os nossos mares, e falta acima de tudo capacidade para reter estes profissionais e estratégia para tornar atrativa esta profissão.

Talvez importe relembrar que os pescadores, descontam para a lota, 4% daquilo que pescam, e nem que apenas por isso, merecem respeito e condições dignas para exercerem a sua atividade.

Do que estamos à espera?

O setor das pescas nos Açores não é apenas mais uma atividade económica: representa sustento, esperança e orgulho para comunidades inteiras.

As águas abundantes e misteriosas que envolvem as ilhas são fonte de vida, alimentam famílias, entrelaçam gerações e perpetuam tradições que moldam a identidade açoriana. Cada jornada ao mar é um testemunho de coragem, resiliência e ligação profunda à natureza, onde cada peixe capturado significa não apenas rendimento, mas também dignidade e continuidade de um modo de viver. As pescas reforçam laços sociais, protegem saberes ancestrais e garantem que a mesa regional se encha de sabores autênticos. E, enquanto olham para o horizonte, os pescadores sabem que o futuro depende do equilíbrio entre o respeito pelo oceano e a necessidade de sustentar as suas famílias, tornando este setor um verdadeiro símbolo da alma açoriana.

É também por isso, que os pescadores merecem a verdade, não apenas do presente, mas especialmente daquilo que podem esperar do futuro.